Epicuro nasceu em 4 de fevereiro do ano 341 a.C, na Ilha
grega de Samos, no leste do Mar Egeu, localizada entre a ilha de Quios ao
norte, e o arquipélago das Ilhas Egeias do Norte ao sul. Morreu no ano de 269
a.C., na cidade de Atenas, onde vivia. É o segundo filho de uma família de
quatro irmãos. Seus pais, Chaerestrate e Neocles, professor escolar, eram
“cleruchs”, uma classe de cidadãos de Atenas, mas localizados em colônia
Ateniense cedida a eles para um tipo de agricultura de subsistência. Desde já temos
que reconhecer que a ideia de pertencer a Atenas era altamente atrativa, devido
ao senso de liberdade oferecido pela cidade aos seus moradores e, também, por
ser o maior centro cultural da região e sede dos grandes filósofos.
A Carta a Meneceu é um dos mais interessantes escritos de Epicuro
sobre a filosofia epicurista, em que ele escreve para um dos seus alunos,
Meneceu, como deve proceder para ter uma vida feliz. A carta costuma ser
dividida em partes, como segue:
Introdução
"Saudações
Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para esse estudo ainda não chegou ou que já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade. Logo, tanto o jovem como o velho devem estudar filosofia, o primeiro para que à medida que envelheça possa reter a felicidade da juventude nas suas memórias agradáveis do passado; o último para que, apesar de velho, possa ao mesmo tempo ser jovem em virtude do seu destemor perante o futuro. Temos, portanto, de estudar o meio de assegurar a felicidade, visto que, se a tivermos, temos tudo, mas se não a tivermos, fazemos tudo para obtê-la".
Ensinamentos
básicos
Os
Deuses
Os deuses existem; mas é uma blasfêmia aceitar as crenças comuns a respeito deles. Eles não têm nenhuma preocupação com o Homem.
Pratica e estuda sem
cessar aquilo que sempre ensinei a você,
tendo a certeza de que esses são os primeiros princípios de uma vida
boa. Depois de aceitar deus como um ser imortal e abençoado, descrito pela
opinião popular, não lhe atribua nada mais além do que seja alheio à imortalidade ou externo à bem-aventurança,
mas, ao contrário, acredite nele a respeito de tudo que possa segurar sua
abençoada imortalidade. Os deuses realmente existem, uma vez que a nossa
percepção sobre eles é clara; mas eles não são como a multidão os imagina
serem, pois a maior parte dos homens não retém a primeira imagem que retém dos
deuses. Não é o homem que destrói os deuses da crença popular que seja ímpio,
mas aquele que descreve os deuses nos termos aceitos pela multidão. O fato é
que as opiniões da multidão sobre os deuses não são percepções, mas falsas
suposições. De acordo com essas superstições populares, os deuses enviam
grandes males aos perversos, e grandes bem-aventuranças aos íntegros, pois
eles, estando sempre dispostos às suas próprias virtudes, aprovam os seus
semelhantes, encarando como estranho
tudo aquilo que for diferente.
A Morte
A filosofia, ao mostrar que a morte é o fim de toda a consciência, liberta-nos de todo medo da morte. Uma vida que seja feliz é melhor do que uma vida que seja meramente longa.
Habitue-se,
você mesmo, à crença de que a morte não nos diz respeito, dado que todo o mal e
todo o bem assentam na sensação e a sensação tem fim com a morte. Logo, a
crença verdadeira de que a morte nada é para nós faz uma vida mortal feliz, não
por lhe acrescentar um tempo infinito, mas por lhe tirar o desejo de
imortalidade.
Pois,
não há razão para que o homem que esteja plenamente certo de que não há nada
para recear na morte, possa encontrar algo a recear em vida. Logo, também é tolo aquele que diz recear a morte, não por ser dolorosa quando chegar, mas antecipando que será dolorosa;
pois o que não é um fardo quando presente,
não tem razão de ser doloroso quando for antecipado. A morte, o mais
temido dos males, não nos diz respeito, consequentemente; pois enquanto
existirmos, a morte não está presente e quando a morte estiver presente, nós já não existimos. Não é nada, portanto,
para os vivos, nem para os mortos, visto que não está presente nos vivos ou os
mortos que já não estão mais presentes.
Mas
os homens, em geral, por vezes fogem da morte acreditando ser o maior dos
males, por vezes almejam-na como um alívio para os males da vida. O homem sábio
não renuncia à vida, nem receia o seu fim; pois a vida não o ofende, nem ele
supõe que não viver é, de algum modo, um mal. Uma vez que não escolhe a comida
pela maior quantidade, mas pela que lhe é mais agradável, também não procura a
satisfação da vida mais longa, mas sim a da mais feliz.
Aquele
que aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem é tolo, não apenas
porque a vida é desejável, mas também porque a arte de viver bem e a arte de
morrer bem é uma só. No entanto, muito pior é aquele que diz que é bom não ter
nascido, mas, uma vez nascido, esteja
pronto para passar pelos portões de Hades.
Se disser isso e realmente for essa a sua convicção, por que não
abandonar, então, a vida? Certamente,
tem os meios em mãos para fazer isso se, de fato, acreditar realmente no que
pensa. Se o diz por zombaria, será tido como um tolo entre aqueles que não
aceitam esses ensinamentos. Lembre que o futuro não é nem nosso, nem
completamente não-nosso, de modo que não podemos contar com certeza de sua
vinda, nem abandonar totalmente a esperança de que não virá.
A Teoria
Moral
Os desejos realmente necessários estão relacionados à saúde do corpo e à paz da alma; se eles forem satisfeitos, isso é tudo para um vida feliz.
O Prazer como
Motivo
Tens
que considerar que alguns desejos são naturais; outros vãos, e os que são
naturais, alguns são necessários e outros apenas naturais. Entre os desejos
naturais, alguns são necessários para a felicidade, alguns para o bem-estar do
corpo, outros para a própria vida. O homem que tem um conhecimento perfeito
disso, saberá como fazer para que a sua escolha ou rejeição tenda na direção de
ganhar saúde física e paz de espírito, uma
vez que se trata do fim último de uma vida bem-aventurada. Pois para
alcançar esse fim, ou seja, a libertação da dor e do medo, fazemos de tudo. Uma
vez alcançada essa condição, toda a tempestade da alma é sossegada, dado que a
criatura nada mais precisa fazer para procurar algo que lhe falte, nem procurar
qualquer outra coisa para completar o bem-estar da alma e do corpo. Pois só
sentimos a ausência do prazer, quando sentimos dor com a sua falta; mas quando
não sentimos dor, já não precisamos mais do prazer. Por essa razão, dizemos que
o prazer é o princípio e o fim da vida bem-aventurada. Reconhecemos o prazer
como o bem primeiro e natural; partindo do prazer, aceitamos ou rejeitamos; e
regressamos a isso ao ajuizar toda a coisa boa, usando este sentimento de
prazer como o nosso guia.
O
Prazer e a Dor
O prazer é o maior de todos os bens; mas
alguns prazeres trazem dor, e ao escolher, temos que considerar isso.
Precisamente
porque o prazer é o maior bem natural, não escolhemos qualquer prazer, até por
vezes batemo-nos de prazeres se estes forem cancelados pelas privações que se
seguem; e consideramos muitas dores melhores do que os prazeres quando um
grande prazer vem até nós depois de termos sofrido dores consistentes. Todo o
prazer é um bem, dado ter uma natureza
congênere à nossa; contudo, nem todo o prazer deve ser escolhido. De igual
modo, toda a dor é um mal, contudo nem toda a dor é de natureza a ser evitada
em todas as ocasiões. Contrabalançando as vantagens e desvantagens, é próprio
decidirmos sobre todas essas coisas; pois em certas circunstâncias tratamos o
bem como mal e, igualmente, o mal como bem.
A
autossuficiência
O homem verdadeiramente sábio é aquele que pode ser feliz com pouco.
Encaramos a autossuficiência como um grande bem, não para que possamos desfrutar apenas de poucas coisas, mas para que, se não tivermos muitas, possamos nos satisfazer com poucas, estando firmemente persuadidos de que quem retira o maior prazer do luxo é quem o encara como menos precisão, e que tudo o que é natural se obtém facilmente, ao passo que os prazeres vãos são difíceis de obter. Na verdade, temperos simples dão um prazer igual ao dos banquetes pródigos, quando a dor devida à necessidade for removida; e pão e água dão o máximo prazer quando uma pessoa necessitada os consome. Estar acostumado a um meio de vida simples e básico conduz à saúde e deixa o homem pronto para as tarefas necessárias da vida. Prepara-nos melhor, também, para usufruir o luxo se por vezes tivermos a sorte de o encontrar, e faz-nos intrépidos face à fortuna.
O verdadeiro prazerA verdadeira felicidade não vem das alegrias dos prazeres fisicos, mas de uma vida simples, livre da ansiedade, e com as necessidades fisicas satisfeitas.Quando dizemos que o prazer é o fim, não estamos falando do prazer extravagante/libertino ou que depende da satisfação física — como pensam algumas pessoas que não compreendem os nossos ensinamentos, discordam deles ou os interpretam malevolamente — mas por prazer queremos dizer o estado em que o corpo se libertou da dor e a mente da ansiedade. Nem beber e dançar continuamente, nem o amor sexual, nem a alegria de comer peixe, ou qualquer outra coisa que uma mesa luxuosa ofereça como deleite de vida; ao contrário, ele é produzido por uma razão que seja sóbria, que examine o motivo de cada escolha e rejeição, e que afaste todas as opiniões através dos quais o maior tumulto se apodera da mente.A prudênciaA prudência ou sabedoria prática deve ser o nosso guia.De tudo isso, o bem inicial e principal é a prudência. Por essa razão, a prudência é mais preciosa do que a própria filosofia. Todas as outras virtudes nascem dela. Ensina-nos que não é possível viver agradavelmente, sem ao mesmo tempo viver prudentemente, nobremente e justamente; nem viver prudentemente, nobremente e justamente, sem viver agradavelmente; pois as virtudes crescem em união íntima com a vida agradável, e a vida agradável não pode ser separada das virtudes.ConclusãoPanegírico sobre o homem prudenteQuem você imagina, então, que é superior ao homem prudente, que tem opiniões reverentes sobre os deuses, que não tem qualquer medo da morte, que descobriu qual é o maior bem em vida e que compreende que o mais alto ponto do que seja o bem é fácil de alcançar e manter, e que o mal extremo tem limites no tempo ou no sofrimento, e que ri do que algumas pessoas inventam como guias dessas coisas, a Necessidade? Ele pensa que cabe a nós o poder de decisão principal, apesar de algumas coisas virem a nós por necessidade, algumas por acaso e outras pelos nossos próprios desejos; ele vê que a necessidade é irresponsável e o acaso incerto, mas que as nossas ações não estão sujeitas a qualquer poder. É por essa razão que as nossas ações merecem louvor ou censura.Seria melhor aceitar o mito sobre os deuses do que ser um escravo do determinismo dos físicos; pois o mito sugere uma esperança de graça pelas honras concedidas aos deuses, mas a necessidade instituída pelo determinismo é inescapável. Uma vez que o homem prudente não encara, como muitos, o acaso como um deus (pois os deuses nada fazem de maneira desordenada) ou como uma causa instável de todas as coisas; ele acredita que o acaso não dá ao homem o bem e o mal para fazer a sua vida feliz ou miserável, mas que fornece as oportunidades para os grandes bens ou males.
Finalmente,
ele pensa que é melhor encontrar o infortúnio quando se age com razão do que se
deparar com boa fortuna ao agir insensatamente; pois é melhor não ocorrer o que
foi bem planejado em nossas ações do que ser bem-sucedido por acaso no que foi
mal planejado.
Palavras
finais a Meneceu
Medite sobre esses preceitos e outros como
esses, de dia e de noite, sozinho ou com um amigo que tenha a mesma opinião.
Com isso, nunca viverás desalentado, tanto acordado quanto dormindo; mas
viverás como um deus entre os homens; pois a vida em meio às bem-aventuranças
imortais não é de modo algum igual a vida de um mero mortal.
Obs.: O texto é traduzido do inglês, colocado à disposição pelo ‘Columbia College’. Trata-se, por sua vez, de uma tradução anônima da
Carta de Epicuro ao seu aluno Meneceu, e bem mais completa do que já a apresentamos em outro capítulo do livro, (http://www.college.columbia.edu/core/sites/core/files/text/Letter%20to%20Menoeceus.pdf).
Cabe ressaltar, também, que a mais antiga tradução deste trabalho de Epicuro é reconhecido como sendo de Robert Drew Hicks (http://en.wikisource.7val.com/wiki/Letter_to_Menoeceus). Mas hoje existem muitas traduções, como as de Brad Inwood e L. P. Gerson (pela Hackett Editora) e algumas especiais, como as escritas pelo próprio Epicuro e preservadas por Diógenes Laércio, biografo dos filósofos gregos, que pouco se sabe sobre ele, mas que provavelmente viveu entre o século 200 e 250 da era cristã. Restam três desses documentos, e um deles pode ser lido no .http://wiki.epicurus.info/Letter_to_Menoeceus,
A ética
epicurista, como se pode notar em sua Carta a Meneceu, não é uma forma ética
hedonista. Para Epicuro, o prazer tem
que ser sustentado para coincidir com a
virtude. Não se trata de prazeres
extremos. Ao contrário, alguns prazeres podem ser prejudiciais aos seres
humanos, assim como algumas indulgências. Analisa cada prazer, levando em
conta, sempre, o que pode trazer como resultado negativo no futuro. A própria indulgência
indiscriminada pode levar a consequências negativas. É de se notar o
fundamental papel do prazer e da dor na construção da felicidade para Epicuro.
Eles são os coordenadores da vida humana. Para ele, se o Homem quiser viver uma
vida de felicidade duradoura tem que balancear bem os dois guias, agindo de
maneira prudente, nunca querendo ter prazer a qualquer custo, para não sofrer
dor ou constrangimentos que possam resultar dessas ações.
Epicuro acredita
que a formação do hábito de determinados prazeres, como o de comer o mesmo
alimento muitas vezes, pode levar o indivíduo a perder o gosto por ele. Da
mesma forma, o alimento muito saboroso pode levar o indivíduo a comê-lo de
forma excessiva, trazendo, como resultado, a indigestão e outros problemas de
saúde. Parcimônia, assim, é o nome da prudência. Da mesma forma, para Epicuro o
Homem tem que experimentar o desagradável, se quiser garantir uma vida mais
prazerosa no futuro. Fala, ademais, na
sua carta ao seu aluno Meneceu, que a
morte não tem que ser temida. Afinal, o próprio medo é uma fonte de infelicidade.
Vencer o medo da morte conduz, naturalmente, a uma vida mais feliz.
Marco Túlio
Cícero (106 a 43 a.C.), na sua
obra “On Ends”, fala de Lúcio
Mánlio Torquato, político romano, seguidor de Epicuro, para dar ênfase nas
verdades do epicurismo, citando que ele diz:
1. “Prazer e dor, além de fornecer os motivos do desejo e da rejeição, são os impulsos da conduta em geral. Logo, podemos concluir, claramente, que as ações são corretas e louváveis apenas como sendo um meio para a realização de uma vida de prazer. Mas aquilo que não é em si um meio para qualquer coisa, exceto que tudo o demais seja um meio para ele, é o que os gregos chamam de Telos, o mais elevado, o último ou Bem final. Devemos admitir, portanto, que o Principal Bem é viver agradavelmente”. E continua questionando,
2. “Suponha, por outro lado, uma pessoa esmagada sob a carga mais pesada da aflição mental e corporal do que a humanidade é capaz. Não lhe conceder qualquer esperança de alívio em vista, assim como qualquer perspectiva de prazer, presente ou futuro. Pode alguém descrever ou imaginar um estado mais deplorável? Se uma vida cheia de dor é a principal coisa a ser evitada, segue-se, então, que viver na dor é o maior dos males; e essa situação implica que uma vida de prazer é o bem supremo. Na verdade, a mente não possui nada em si mesma sobre a qual pudesse no final descansar. Todo o medo, toda a tristeza pode ser regredida até a dor; não há outra coisa além da dor que seja, pela sua própria natureza, capaz de causar ansiedade ou angústia”. Cicero (quoting the Epicurean Lucius Torquatus) - On Ends, (Section I.XII)
Epicuro também é
considerado o primeiro pensador a desenvolver a noção de justiça como um
contrato social, com a introdução do lema: “não causar dano, nem ser danificado” (neither to harm nor be
harmed). A base de orientação do homem em sociedade sempre será o prazer e a dor. Por eles, as agressões contra terceiros tendem a se voltar
contra o próprio agressor. Mas, inevitavelmente, como sempre haverá faltosos,
tem que haver um código legal que os punam.
Aponta que a necessidade de se viver numa sociedade com leis e punições
dos faltosos é deixar os indivíduos livres para buscar a felicidade, através
apenas dos sensores prazer e dor.
Mas aponta que as leis que
não contribuam para promover a felicidade não são leis justas e devem ser
abandonadas. Como ele mesmo fala na sua Carta
Meneceu:
“Não é possível viver agradavelmente, sem ao mesmo tempo viver prudentemente, nobremente e justamente; nem viver prudentemente, nobremente e justamente, sem viver agradavelmente; pois as virtudes crescem em união íntima com a vida agradável, e a vida agradável não pode ser separada das virtudes”.
A ênfase consiste na
minimização dos danos e na maximização da felicidade para a própria pessoa e
para os outros. Como na época prevalecia o entendimento de que se devia fazer o
bem para não ser castigados pelos deuses, dava ênfase de que os acertos deveriam
ser feitos na Terra e, não, nos céus, em acordos mútuos com seres vivos e, não,
com seres divinos.
Mas a “Ética da
Reciprocidade” vingou ainda alguns séculos depois da morte de Epicuro. Mas
voltou a prevalece a força da ética divina, onde as pessoas agiam de maneira a
maximizar o bem estar próprio, tendo em conta sempre o do seu semelhante, para
não ofender os deuses. Essa ética foi, aos poucos, sendo destronada pela
Natureza, só foi la só foi procediam ideia
Ludwig Von
Mises, na sua obra prima Ação Humana, foi o autor que melhor conseguiu
normatizar os fundamentos do prazer e
da dor, e dar impulso aos seus aspectos científicos,
tentados por Jeremy Bentham, com o nome de Utilitarismo, no seu livro “Introdução aos princípios da moral e da
legislação”, mas sem sucesso, devido lidar com agregados sociais. Nele
escreve, seguindo Epicuro, que: “A
natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois senhores soberanos, a dor e
o prazer. Só a eles compete indicar o que devemos fazer, assim como determinar
o que faremos. A seu trono estão atrelados, por um lado, o critério que
diferencia o certo do errado, e, por outro, a cadeia das causas e dos efeitos.”
Infelizmente, como vamos mostrar mais adiante, Bentham, assim como John Stuart Mill, ao falar sobre
o Utilitarismo, deixou de lado o individualismo metodológico e tentou agregar o
prazer e a dor de cada indivíduo, não conseguindo, consequentemente, criar uma
base científica para esses dois senhores pelo caminho das suas mensurações médias,
coisa não só impossível, como fora da realidade social.
Precisamos dar
muita ênfase que devemos à Epicuro a criação do individualismo metodológico,
princípio que permitiu tirar o foco das ações centradas em grupos, classes e
agregados, como fez Jeremy Bentham e John Stuart Mill no Utilitarismo, e
localizá-las no indivíduo, única maneira
de se poder avaliar os sentimentos e valores de cada pessoa e possibilitar a criação de uma verdadeira ciência para o
meio social, com princípios tão verdadeiros quanto os da física, com relação
aos bens físicos.
Isso se deve ao
fato de Epicuro também ter mostrado que a Natureza não deu apenas uma vida
biológica ao Homem, como também os meios de ele cuidar dela, através do prazer e da dor, guias que nascem com o indivíduo e permanecem com ele até a
sua morte, e dos quais nunca vai conseguir se desfazer, nem ir contra as suas
vontades, ao menos de forma consistente, sem colocar em perigo à vida.