Jardim de Epicur

Jardim de Epicur

sábado, 24 de outubro de 2015

A Vida de Epicuro


Epicuro nasceu em 4 de fevereiro do ano 341 a.C, na Ilha grega de Samos, no leste do Mar Egeu, localizada entre a ilha de Quios ao norte, e o arquipélago das Ilhas Egeias do Norte ao sul. Morreu no ano de 269 a.C., na cidade de Atenas, onde vivia. É o segundo filho de uma família de quatro irmãos. Seus pais, Chaerestrate e Neocles, professor escolar, eram “cleruchs”, uma classe de cidadãos de Atenas, mas localizados em colônia Ateniense cedida a eles para um tipo de agricultura de subsistência. Desde já temos que reconhecer que a ideia de pertencer a Atenas era altamente atrativa, devido ao senso de liberdade oferecido pela cidade aos seus moradores e, também, por ser o maior centro cultural da região e sede dos grandes filósofos.

A Carta a Meneceu é  um dos mais interessantes escritos de Epicuro sobre a filosofia epicurista, em que ele escreve para um dos seus alunos, Meneceu, como deve proceder para ter uma vida feliz. A carta costuma ser dividida em partes, como segue:

Introdução                                                                                                          

"Saudações

Que nenhum jovem adie o estudo da filosofia, e que nenhum velho se canse dela; pois nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para esse estudo ainda não chegou ou que já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade. Logo, tanto o jovem como o velho devem estudar filosofia, o primeiro para que à medida que envelheça possa reter a felicidade da juventude nas suas memórias agradáveis do passado; o último para que, apesar de velho, possa ao mesmo tempo ser jovem em virtude do seu destemor perante o futuro. Temos, portanto, de estudar o meio de assegurar a felicidade, visto que, se a tivermos, temos tudo, mas se não a tivermos, fazemos tudo para obtê-la".


Ensinamentos básicos


Os Deuses 
Os deuses existem; mas é uma blasfêmia aceitar as crenças comuns a respeito deles. Eles não têm nenhuma preocupação com o Homem.

Pratica e estuda sem cessar aquilo que sempre ensinei a você,  tendo a certeza de que esses são os primeiros princípios de uma vida boa. Depois de aceitar deus como um ser imortal e abençoado, descrito pela opinião popular, não lhe atribua nada mais além do que seja alheio à  imortalidade ou externo à bem-aventurança, mas, ao contrário, acredite nele a respeito de tudo que possa segurar sua abençoada imortalidade. Os deuses realmente existem, uma vez que a nossa percepção sobre eles é clara; mas eles não são como a multidão os imagina serem, pois a maior parte dos homens não retém a primeira imagem que retém dos deuses. Não é o homem que destrói os deuses da crença popular que seja ímpio, mas aquele que descreve os deuses nos termos aceitos pela multidão. O fato é que as opiniões da multidão sobre os deuses não são percepções, mas falsas suposições. De acordo com essas superstições populares, os deuses enviam grandes males aos perversos, e grandes bem-aventuranças aos íntegros, pois eles, estando sempre dispostos às suas próprias virtudes, aprovam os seus semelhantes,  encarando como estranho tudo aquilo que for diferente.
A Morte

A filosofia, ao mostrar que a morte é o fim de toda a consciência, liberta-nos de todo medo da morte. Uma vida que seja feliz é melhor do que uma vida que seja meramente longa.

Habitue-se, você mesmo, à crença de que a morte não nos diz respeito, dado que todo o mal e todo o bem assentam na sensação e a sensação tem fim com a morte. Logo, a crença verdadeira de que a morte nada é para nós faz uma vida mortal feliz, não por lhe acrescentar um tempo infinito, mas por lhe tirar o desejo de imortalidade.

Pois, não há razão para que o homem que esteja plenamente certo de que não há nada para recear na morte, possa encontrar algo a recear em vida. Logo,  também é tolo aquele que diz recear a morte,  não por ser dolorosa quando  chegar, mas antecipando que será dolorosa; pois o que não é um fardo quando presente,  não tem razão de ser doloroso quando for antecipado. A morte, o mais temido dos males, não nos diz respeito, consequentemente; pois enquanto existirmos, a morte não está presente e quando a morte estiver presente,  nós já não existimos. Não é nada, portanto, para os vivos, nem para os mortos, visto que não está presente nos vivos ou os mortos que já não estão mais presentes.

Mas os homens, em geral, por vezes fogem da morte acreditando ser o maior dos males, por vezes almejam-na como um alívio para os males da vida. O homem sábio não renuncia à vida, nem receia o seu fim; pois a vida não o ofende, nem ele supõe que não viver é, de algum modo, um mal. Uma vez que não escolhe a comida pela maior quantidade, mas pela que lhe é mais agradável, também não procura a satisfação da vida mais longa, mas sim a da mais feliz. 

Aquele que aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem é tolo, não apenas porque a vida é desejável, mas também porque a arte de viver bem e a arte de morrer bem é uma só. No entanto, muito pior é aquele que diz que é bom não ter nascido,  mas, uma vez nascido, esteja pronto para passar pelos portões de Hades.  Se disser isso e realmente for essa a sua convicção, por que não abandonar, então, a vida?  Certamente, tem os meios em mãos para fazer isso se, de fato, acreditar realmente no que pensa. Se o diz por zombaria, será tido como um tolo entre aqueles que não aceitam esses ensinamentos. Lembre que o futuro não é nem nosso, nem completamente não-nosso, de modo que não podemos contar com certeza de sua vinda, nem abandonar totalmente a esperança de que não virá.

A Teoria Moral 
Os desejos realmente necessários estão relacionados à  saúde do corpo e à  paz da alma; se eles forem satisfeitos, isso é tudo para um vida feliz. 


O Prazer como Motivo

Tens que considerar que alguns desejos são naturais; outros vãos, e os que são naturais, alguns são necessários e outros apenas naturais. Entre os desejos naturais, alguns são necessários para a felicidade, alguns para o bem-estar do corpo, outros para a própria vida. O homem que tem um conhecimento perfeito disso, saberá como fazer para que a sua escolha ou rejeição tenda na direção de ganhar saúde física e paz de espírito, uma vez que se trata do fim último de uma vida bem-aventurada. Pois para alcançar esse fim, ou seja, a libertação da dor e do medo, fazemos de tudo. Uma vez alcançada essa condição, toda a tempestade da alma é sossegada, dado que a criatura nada mais precisa fazer para procurar algo que lhe falte, nem procurar qualquer outra coisa para completar o bem-estar da alma e do corpo. Pois só sentimos a ausência do prazer, quando sentimos dor com a sua falta; mas quando não sentimos dor, já não precisamos mais do prazer. Por essa razão, dizemos que o prazer é o princípio e o fim da vida bem-aventurada. Reconhecemos o prazer como o bem primeiro e natural; partindo do prazer, aceitamos ou rejeitamos; e regressamos a isso ao ajuizar toda a coisa boa, usando este sentimento de prazer como o nosso guia.

O Prazer e a Dor

O prazer é o maior de todos os bens; mas alguns prazeres trazem dor, e ao escolher, temos que considerar isso.

Precisamente porque o prazer é o maior bem natural, não escolhemos qualquer prazer, até por vezes batemo-nos de prazeres se estes forem cancelados pelas privações que se seguem; e consideramos muitas dores melhores do que os prazeres quando um grande prazer vem até nós depois de termos sofrido dores consistentes. Todo o prazer é um bem,  dado ter uma natureza congênere à nossa; contudo, nem todo o prazer deve ser escolhido. De igual modo, toda a dor é um mal, contudo nem toda a dor é de natureza a ser evitada em todas as ocasiões. Contrabalançando as vantagens e desvantagens, é próprio decidirmos sobre todas essas coisas; pois em certas circunstâncias tratamos o bem como mal e, igualmente, o mal como bem.

A autossuficiência
           O homem verdadeiramente sábio é aquele que pode ser feliz com pouco.
Encaramos a autossuficiência como um grande bem, não para que possamos desfrutar apenas de poucas coisas, mas para que, se não tivermos muitas, possamos nos satisfazer com poucas, estando firmemente persuadidos de que quem retira o maior prazer do luxo é quem o encara como menos precisão, e que tudo o que é natural se obtém facilmente, ao passo que os prazeres vãos são difíceis de obter. Na verdade, temperos simples dão um prazer igual ao dos banquetes pródigos, quando a dor devida à necessidade for removida; e pão e água dão o máximo prazer quando uma pessoa necessitada os consome. Estar acostumado a um meio de vida simples e básico conduz à saúde  e deixa o homem pronto  para as tarefas necessárias da vida. Prepara-nos melhor, também, para usufruir o luxo se por vezes tivermos a sorte de o encontrar, e faz-nos intrépidos face à fortuna.
O verdadeiro prazer
A verdadeira felicidade não vem das alegrias dos prazeres fisicos, mas de uma vida simples, livre da ansiedade, e com as necessidades fisicas satisfeitas.
Quando dizemos que o prazer é o fim, não estamos falando do prazer extravagante/libertino ou que depende da satisfação física — como pensam algumas pessoas que não compreendem os nossos ensinamentos, discordam deles ou os interpretam malevolamente — mas por prazer queremos dizer o estado em que o corpo se libertou da dor e a mente da ansiedade. Nem beber e dançar continuamente, nem o amor sexual, nem a alegria de comer peixe, ou qualquer outra coisa que uma mesa luxuosa ofereça como deleite de vida; ao contrário, ele é produzido por uma razão que seja sóbria, que examine o motivo de cada escolha e rejeição, e que afaste todas as opiniões através dos quais o maior tumulto se apodera da mente.  
A prudência
A prudência ou sabedoria prática deve ser o nosso guia.
De tudo isso, o bem inicial e principal é a prudência. Por essa razão, a prudência é mais preciosa do que a própria filosofia. Todas as outras virtudes nascem dela. Ensina-nos que não é possível viver agradavelmente, sem ao mesmo tempo viver prudentemente, nobremente e justamente; nem viver prudentemente, nobremente e justamente, sem viver agradavelmente; pois as virtudes crescem em união íntima com a vida agradável, e a vida agradável não pode ser separada das virtudes.
Conclusão
Panegírico sobre o homem prudente
Quem você imagina,  então, que é superior ao homem prudente, que tem opiniões reverentes sobre os deuses, que não tem qualquer medo da morte, que descobriu qual é o maior bem em vida e que compreende que o mais alto ponto do que seja o bem é fácil de alcançar e manter, e que o mal extremo  tem limites no tempo ou no sofrimento, e que ri do que algumas pessoas inventam como guias dessas coisas, a Necessidade?  Ele pensa que cabe a nós o poder de decisão principal, apesar de algumas coisas virem a nós por necessidade, algumas por acaso e outras pelos nossos próprios desejos; ele vê que a necessidade é irresponsável e o acaso incerto, mas que as nossas ações não estão sujeitas a qualquer poder. É por essa razão que as nossas ações merecem louvor ou censura.

Seria melhor aceitar o mito sobre os deuses do que ser um escravo do determinismo dos físicos; pois o mito sugere uma esperança de graça pelas honras concedidas aos deuses, mas a necessidade instituída pelo determinismo é inescapável. Uma vez que o homem prudente não encara, como muitos, o acaso como um deus (pois os deuses nada fazem de maneira desordenada) ou como uma causa instável de todas as coisas; ele acredita que o acaso não dá ao homem o bem e o mal para fazer a sua vida feliz ou miserável, mas que fornece as oportunidades para os grandes bens ou males.

Finalmente, ele pensa que é melhor encontrar o infortúnio quando se age com razão do que se deparar com boa fortuna ao agir insensatamente; pois é melhor não ocorrer o que foi bem planejado em nossas ações do que ser bem-sucedido por acaso no que foi mal planejado.

Palavras finais a Meneceu


Medite sobre esses preceitos e outros como esses, de dia e de noite, sozinho ou com um amigo que tenha a mesma opinião. Com isso, nunca viverás desalentado, tanto acordado quanto dormindo; mas viverás como um deus entre os homens; pois a vida em meio às bem-aventuranças imortais não é de modo algum igual a vida de um mero mortal.  

Obs.: O texto é traduzido do inglês, colocado à disposição pelo ‘Columbia College’. Trata-se, por sua vez, de uma tradução anônima da
Carta de Epicuro ao seu aluno Meneceu, e bem mais completa do que já a apresentamos em outro capítulo do livro, (http://www.college.columbia.edu/core/sites/core/files/text/Letter%20to%20Menoeceus.pdf).
Cabe ressaltar, também,  que a mais antiga tradução deste trabalho de Epicuro é reconhecido como sendo  de Robert Drew Hicks (http://en.wikisource.7val.com/wiki/Letter_to_Menoeceus). Mas hoje existem muitas traduções, como as de Brad Inwood e L. P. Gerson (pela Hackett Editora) e algumas especiais, como as escritas pelo próprio Epicuro e preservadas por Diógenes Laércio, biografo dos filósofos gregos, que pouco se sabe sobre ele, mas que provavelmente viveu entre o século 200 e 250 da era cristã. Restam três desses documentos, e um deles pode ser lido no .http://wiki.epicurus.info/Letter_to_Menoeceus,


A ética epicurista, como se pode notar em sua Carta a Meneceu, não é uma forma ética hedonista. Para Epicuro, o prazer tem que ser sustentado para  coincidir com a virtude.  Não se trata de prazeres extremos. Ao contrário, alguns prazeres podem ser prejudiciais aos seres humanos, assim como algumas indulgências. Analisa cada prazer, levando em conta, sempre, o que pode trazer como resultado negativo no futuro. A própria indulgência indiscriminada pode levar a consequências negativas. É de se notar o fundamental papel do prazer e da dor na construção da felicidade para Epicuro. Eles são os coordenadores da vida humana. Para ele, se o Homem quiser viver uma vida de felicidade duradoura tem que balancear bem os dois guias, agindo de maneira prudente, nunca querendo  ter prazer a qualquer custo, para não sofrer dor ou constrangimentos que possam resultar dessas  ações. 

Epicuro acredita que a formação do hábito de determinados prazeres, como o de comer o mesmo alimento muitas vezes, pode levar o indivíduo a perder o gosto por ele. Da mesma forma, o alimento muito saboroso pode levar o indivíduo a comê-lo de forma excessiva, trazendo, como resultado, a indigestão e outros problemas de saúde. Parcimônia, assim, é o nome da prudência. Da mesma forma, para Epicuro o Homem tem que experimentar o desagradável, se quiser garantir uma vida mais prazerosa no futuro.  Fala, ademais, na sua carta ao seu aluno Meneceu,  que a morte não tem que ser temida. Afinal, o próprio medo é uma fonte de infelicidade. Vencer o medo da morte conduz, naturalmente,  a uma vida mais feliz.

Marco Túlio Cícero (106 a 43 a.C.), na sua obra  “On Ends”, fala de Lúcio Mánlio Torquato, político romano, seguidor de Epicuro, para dar ênfase nas verdades do epicurismo, citando que ele diz:

1. “Prazer e dor, além de fornecer os motivos do desejo e da rejeição, são os impulsos da conduta em geral. Logo, podemos concluir, claramente, que as ações são corretas e louváveis apenas como sendo um meio para a realização de uma vida de prazer. Mas aquilo que não é em si um meio para qualquer coisa, exceto que tudo o demais seja um meio para ele, é o que os gregos chamam de Telos, o mais elevado, o último ou Bem final. Devemos admitir, portanto, que o Principal Bem é viver agradavelmente”. E continua questionando,
2. “Suponha, por outro lado, uma pessoa esmagada sob a carga mais pesada da aflição mental e corporal do que a humanidade é capaz. Não lhe conceder qualquer esperança de alívio em vista, assim como qualquer perspectiva de prazer, presente ou futuro. Pode alguém descrever ou imaginar um estado mais deplorável? Se uma vida cheia de dor é a principal coisa a ser evitada, segue-se, então, que viver na dor é o maior dos males; e essa situação implica que uma vida de prazer é o bem supremo. Na verdade, a mente não possui nada em si mesma sobre a qual pudesse no final descansar. Todo o medo, toda a tristeza pode ser regredida até a dor; não há outra coisa além da dor que seja, pela sua própria natureza, capaz de causar ansiedade ou angústia”. Cicero (quoting the Epicurean Lucius Torquatus) - On Ends, (Section I.XII)

Epicuro também é considerado o primeiro pensador a desenvolver a noção de justiça como um contrato social, com a introdução do lema: “não causar dano,  nem ser danificado” (neither to harm nor be harmed). A base de orientação do homem em sociedade sempre será o prazer e a dor. Por eles, as agressões contra terceiros tendem a se voltar contra o próprio agressor. Mas, inevitavelmente, como sempre haverá faltosos, tem que haver um código legal que os punam.  Aponta que a necessidade de se viver numa sociedade com leis e punições dos faltosos é deixar os indivíduos livres para buscar a felicidade, através apenas dos sensores  prazer e dor.  
Mas aponta que as leis que não contribuam para promover a felicidade não são leis justas e devem ser abandonadas. Como ele mesmo fala na sua Carta  Meneceu:
“Não é possível viver agradavelmente, sem ao mesmo tempo viver prudentemente, nobremente e justamente; nem viver prudentemente, nobremente e justamente, sem viver agradavelmente; pois as virtudes crescem em união íntima com a vida agradável, e a vida agradável não pode ser separada das virtudes”.
A ênfase consiste na minimização dos danos e na maximização da felicidade para a própria pessoa e para os outros. Como na época prevalecia o entendimento de que se devia fazer o bem para não ser castigados pelos deuses, dava ênfase de que os acertos deveriam ser feitos na Terra e, não, nos céus, em acordos mútuos com seres vivos e, não, com seres divinos. 
Mas a “Ética da Reciprocidade” vingou ainda alguns séculos depois da morte de Epicuro. Mas voltou a prevalece a força da ética divina, onde as pessoas agiam de maneira a maximizar o bem estar próprio, tendo em conta sempre o do seu semelhante, para não ofender os deuses. Essa ética foi, aos poucos, sendo destronada pela Natureza, só foi la só foi procediam ideia
Ludwig Von Mises, na sua obra prima Ação Humana, foi o autor que melhor conseguiu normatizar os fundamentos do prazer e da dor,  e dar impulso aos seus aspectos científicos, tentados por Jeremy Bentham, com o nome de Utilitarismo, no seu livro  “Introdução aos princípios da moral e da legislação”, mas sem sucesso, devido lidar com agregados sociais. Nele escreve,  seguindo Epicuro, que: “A natureza colocou a humanidade sob o domínio de dois senhores soberanos, a dor e o prazer. Só a eles compete indicar o que devemos fazer, assim como determinar o que faremos. A seu trono estão atrelados, por um lado, o critério que diferencia o certo do errado, e, por outro, a cadeia das causas e dos efeitos.” 

Infelizmente, como vamos mostrar mais adiante, Bentham, assim como John Stuart Mill, ao falar sobre o Utilitarismo, deixou de lado o individualismo metodológico e tentou agregar o prazer e a dor de cada indivíduo, não conseguindo, consequentemente, criar uma base científica para esses dois senhores pelo caminho das suas mensurações médias, coisa não só impossível, como fora da realidade social.


Precisamos dar muita ênfase que devemos à Epicuro a criação do individualismo metodológico, princípio que permitiu tirar o foco das ações centradas em grupos, classes e agregados, como fez Jeremy Bentham e John Stuart Mill no Utilitarismo, e localizá-las no indivíduo,  única maneira de se poder avaliar os sentimentos e valores de cada pessoa e possibilitar  a criação de uma verdadeira ciência para o meio social, com princípios tão verdadeiros quanto os da física, com relação aos bens físicos.

Isso se deve ao fato de Epicuro também ter mostrado que a Natureza não deu apenas uma vida biológica ao Homem, como também os meios de ele cuidar dela, através do prazer e da dor, guias que nascem com o indivíduo e permanecem com ele até a sua morte, e dos quais nunca vai conseguir se desfazer, nem ir contra as suas vontades, ao menos de forma consistente, sem colocar em perigo à vida.